Conhecendo Padre Alonso



  • Conhecendo Pe. Alonso

A vida de padre alonso, tão repleta de realizações, foi um grande exemplo para mim e acredito que também será para você, caro leitor.


fui naturalmente despertado para esse trabalho porque, como qualquer cidadão guanduense, cresci com a figura do padre alonso presente no meu dia-a-dia, sendo sempre tocado por tão pura alma com quem sabia que podia contar sempre.


creio que a maior motivação em escrever sobre a sua vida tenha surgido em minha infância, quando comecei a frequentar e a participar efetivamente da vida religiosa na vila de Mascarenhas, onde morava com meus familiares. logo que conheci padre alonso, não pude deixar de notar a simplicidade e a humildade que aquele homem, de tanta importância e significado para os fiéis de sua igreja, trazia em seu coração. senti-me diante de alguém que nitidamente me transmitia paz, amor e confiança, o que me tornava seguro e confortado diante de minha religião. assim, como minha primeira comunhão sob a proteção de suas bênçãos.


assim, movido pelo seu carisma e despertado por um desejo de registrar a vida desse genuíno filho de deus que cuidava de nós na terra, mais tarde, já com a intenção deste trabalho, procurei nosso querido padre para saber mais sobre sua vida, e tive a felicidade de realizar várias entrevistas com ele. [...] nas datas em que padre alonso nos visitava, um grande número de fiéis enchia a igreja local para ouvi-lo. era nítido o bem estar que ele causava quando estava conosco. sua fé e determinação tinham o dom especial de renovar nossa esperança.


Padre Alonso, muito culto, comunicava-se com tranqüilidade com os diferentes grupos etários; por isso, todos se sentiam bem à vontade com ele. Lembro-me de que eu e os meus colegas gostávamos muito de provocá-lo com brincadeiras – ele era divertido e atencioso com a gente.


[...] Lembro-me de que ele voltava o olhar para nós, garotos como eu, e dizia coisas que criança gosta de ouvir. Não nos deixava passar despercebidos, talvez como forma de renovar um olá, ou de nos alertar para o fato de que nos via, ou de que éramos importantes para ele.


Não dar atenção às crianças pode parecer uma bobagem para muitos adultos, mas para as crianças pode significar muito. Prova disso é que nunca esqueci aquele hábito gestual de carinho do Padre Alonso. Hoje, vejo que precisamos olhar mais para as crianças. Não apenas para os nossos filhos! Estamos rodeados de crianças que necessitam ser vistas em toda a sociedade.


Estou ciente de que se não me tivesse disposto a escrever este livro, alguém com certeza o faria. Afinal, um homem com a grandeza de padre Alonso jamais cai no esquecimento. Considero-me privilegiado por esta obra. Espero, contudo, encontrar iluminação para expor esta Lição de vida com sabedoria, pois estou consciente da faculdade transformadora que tem seu exemplo para todos nós, e espero conseguir transferi-la para o amigo leitor.


Além das entrevistas com padre Alonso, tive a oportunidade de falar com muitas pessoas, seus amigos mais íntimos, aos quais quero fazer um profundo agradecimento por contribuírem com o registro de parte dessa maravilhosa história de vida. Digo parte, porque seria uma presunção dizer que escrevi sua história. Isso somente “a vida” que ele escolheu pode fazê-lo. Da minha parte, prefiro dizer que escrevi sobre sua história de vida e não a história de sua vida, que é muito mais ampla.


Durante as vezes em que estive com padre Alonso para as entrevistas, ele me atendeu no quarto da casa paroquial, onde também recebia inúmeras visitas de amigos, de parentes e de pessoas das comunidades. Embora tenha tomado a iniciativa de escrever sobre sua vida num momento em que ele já estava bastante abatido pela enfermidade, que o limitava e tornava desgastante o trabalho de perguntas e respostas, ele foi muito gentil, esforçando-se em colaborar com as entrevistas. Durante esse trabalho, pude notar que muitas pessoas vinham de longe para visitá-lo e conhecê-lo. Como era querido e admirado!


Meu objetivo é retratar e documentar a personagem real de um homem que doou sua vida por amor, consideração e respeito ao ser humano.


Seguindo o exemplo de Jesus, sua preocupação foi nos conduzir para uma renovação íntima, e assim nos levar a entender qual é a resposta essencial do bem, de forma que as relações humanas possam tornar-se o reflexo de uma humanidade renovada, a partir da prática incondicional do bem.

Durante o convívio com o padre Alonso, tive a oportunidade de conhecer algumas de suas considerações pelas coisas mais comuns da vida. Seu gosto pela vida se manifesta nas coisas mais simples, porém essenciais ao espírito humano. Muitas vezes, o homem não percebe o valor que está implícito nessas coisas. Vive em busca de uma felicidade que não passa de fruto de uma ilusão. Uma felicidade inatingível, porque se estabelece naquilo que se quer, que se deseja, que está além... E o pior é que por mais que se alcance, ela não é suficiente. A felicidade não está no "ter". Há muitos homens ricos que são infelizes porque, apesar de poderem possuir qualquer coisa que desejam, sentem um vazio no lugar onde o valor do dinheiro é nulo: na alma. [...]

Muitos confundem conforto material com felicidade e vivem a ilusão de que quando tiverem mais dinheiro serão mais felizes. Grande equivoco! A felicidade está no amor, na paz, na beleza das coisas que podem ser vistas e contempladas, cheiradas, sentidas, vividas, percebidas. A felicidade não está naquilo que desejamos, mas naquilo que já possuímos. Se entendermos a justiça divina, passaremos a agir corretamente para alcançarmos a felicidade. Padre Alonso demonstrou a grandeza de sua sabedoria nos ensinando como devemos viver. Ele se apegou às coisas apenas apreciando-as, considerando-as e tendo muito respeito por tudo, mas nunca se tornou "escravo" de nada.

Era nítido seu amor ao próximo. O "amar a Deus sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti mesmo" se fez em prática incontestável nas suas atitudes. O mandamento diz que devemos "amar ao próximo como a nós mesmos", estando nele implícito que é na medida com que nos amamos que devemos amar ao outro. Padre Alonso demonstrou esse amor em sua maior essência: na prática.


Ele considerou a vida um grande espetáculo, em que tudo é o reflexo da magnânima bondade de Deus para conosco. Cada coisa tem um sentido especial em nossa vida; basta saber sentir e perceber. Padre Alonso apreciou todas as obras do Criador, desde a mais simples até a mais complexa manifestação da natureza e da beleza que possuíam as coisas. Viu na música uma de suas grandes paixões. Chegou a formar um grupo de seresteiros, com o qual se divertiu muito tocando e cantando as mais belas canções que o gosto afinado lhe possibilitava. Seu grupo era formado por grandes amigos, que traziam no indispensável violão, no clarinete e no afinado cavaquinho as alegrias que se refletiam naquilo que tinham em comum – o desejo de cantar.


O encanto que a música trouxe à sua alma denunciou a personalidade do padre sensível e sereno, que sempre soube apreciar a sabedoria do homem ao criar, ao transportar para a música, para o poema ou para uma pintura a expressão da própria alma. “Asa Branca”, a música do saudoso Luiz Gonzaga, era muito especial, apesar de não ter dito o porquê. Talvez o gosto por essa música estivesse relacionado com a saudade que sentia de sua terra natal, já que a letra fala sobre a região nordestina, sobre a esperança do retorno: “Quando a chuva cair de novo pra eu voltar pro meu sertão”. Ele nos falou do desejo que tinha de retornar ao Nordeste para rever o Ceará, sua inesquecível terra.


A música sempre lhe trouxe grande alegria, mas, também, a tristeza não teve muita chance em sua vida. A satisfação com o trabalho jamais poderia caracterizar-lhe uma vida triste. Passou por momentos difíceis, diante de certos acontecimentos que o teriam machucado emocionalmente, e a tristeza até o acompanhou em alguns momentos mais árduos como, por exemplo, quando perdeu pais, irmãos e amigos queridos. Não escondeu a forte dor que experimentara em alguns momentos de sua vida, mas a presença de Deus era a força que sempre afugentava a melancolia. [...]


Momentos difíceis causados por decepções com coisas que não nos cabe o controle, pois ocorrem de forma involuntária à nossa vontade, ás vezes causam tristezas tão profundas que podem levar as pessoas a desistir daquilo que construíram com muito sacrifício. Por isso, padre Alonso acreditava que muito amor deve ser a tristeza do homem que desiste dos sonhos e dos ideais. A melhor forma de lidarmos com essas decepções é transformá-las em experiências para gloriosos acertos futuros, tornando-as ferramentas para novas vitórias. Isso porque as ocorrências nos arremetem aos campos de batalhas, mas não podemos nos esquecer de que a vida é uma grande guerra. [...]


Se a fé em Deus for vivenciada da forma que Paulo a expressa em Filepenses: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”, tamanha será a fé, que poderemos realizar coisas que parecem impossíveis, mas que por ela vemos suas claras possibilidades. Padre Alonso é um dos maiores exemplos de fé que conheci. Ele tinha convicção das coisas que dizia e fazia. Sua fé lhe trouxe grades vitórias. Alcançou o que para muitos seria impossível. Pela fé conquistou tudo o que desejou, e pela mesma fé adquiriu forças para se manter firme na luta que dedicou a seu povo. Foi através da fé que resistiu às dores e às dificuldades enfrentadas com a enfermidade que, embora o tenha levado de nós, não o fez parar de continuar seus trabalhos, antes do definitivo chamado de Deus.


Foi a imensidão da fé que fez de padre Alonso um homem humilde e que o destacou como o santo padre das águas bentas, das procissões, das romarias, dos sermões, do acolhedor dos pequenos, da mão que sempre tocava a cabeça das crianças num ato de carinho respeitoso, do incentivador da educação e do conhecimento, do procurador das vocações, e da grande figura social e histórica, dentre muitas outras atribuições positivas que merece o nosso humilde padre. E tudo pela fé que também deu a imensidão da bondade, da caridade e do amor que teve por todos. [...]


Conhecendo sua vida desprovida de luxo ou de qualquer ostentação de posição social, entendemos a aproximação estreita com todos, de forma que sua vida, apesar de resguardada, cultivava uma grande simpatia no meio social, o que caracterizava como um homem sem orgulho e sem egoísmo, sentimentos que são grandes inimigos na relação entre os homens. Sua vida era compartilhada pela aproximação efetiva e afetiva com todas as pessoas de dentro e de fora da sociedade local. Possuidor de um expressivo gosto pelas artes, não poderia deixar de ter na sua coleção de apreciações a beleza das cores que, segundo ele, tornam a vida e atraente. No verde, no amarelo e no azul se apresentava a preferência que sentia ao contemplar o colorido da vida que Deus nos da todos os dias. Essas cores se combinavam, trazendo um ambiente vivo e alegre. Na chegada, os corrimãos das escadas, eram enfeitados pelo verde e o amarelo, que pareciam das boas-vindas aos visitantes.


Padre Alonso tinha a mentalidade aberta à compreensão de tudo e de todos. Embora fosse um padre tradicional e conservador de alguns valores que acreditava serem necessários para definir a conduta digna do homem sensato, era uma pessoa bastante flexível e aberta a novas proposições, desde que estas não ferissem a dignidade humana e o respeito mútuo. Talvez a capacidade de aceitar inovações tenha sido um dos instrumentos que lhe facilitaram um convívio tão comum com a juventude. [...] Uma outra história que nos contou fala de uma aventura muito engraçada, pelo menos após ter passado o perigo, por que, segundo ele, durante o momento dos riscos, foi uma experiência apavorante. A aventura de voar começou pelo hábito de, volta e meia, dar um passeio de avião com um piloto que havia em Aimorés, Minas Gerais. Porém, um desses pequenos vôos lhe reservou uma grande surpresa.


O fato se deu em um vôo que fizeram até Carlos Chagas, também em Minas. Já na volta, formou-se um inesperado temporal. A chuva dificultou terrivelmente o retorno da viagem. Com a tempestade muito forte, o piloto perdeu todo contato, e teve de contar apenas com os olhos para a orientação do vôo. O pior é que não tinha a menor idéia de como e muito menos de onde pousar! [...] Com a falta de opção, tiveram que voar até São Francisco, localidade mais próxima, onde havia um campo com possibilidade de pouso. Ao chegarem lá, se desesperaram ao ver que o campo estava todo alagado, com madeira espalhada por toda sua superfície. Pouso ali, nem forçado! Seguiram para Mantena, com a tempestade e o pânico aumentando gradativamente. O piloto não conseguia enxergar mais nada, e, para chegar lá, teriam de sobrevoar uma grande elevação do relevo local.


Quando o piloto explicou que seria difícil sobrevoar uma montanha com o tempo naquelas condições, padre Alonso, de passageiro, resolveu passar a tripulante. No desespero, passou a orientar o piloto, dizendo que mantivesse o avião na vertical e, em seguida, começou a rezar o terço. A tempestade foi se acalmando, até que conseguiram alcançar o campo de pouso sem maiores problemas. Contudo, não havia iluminação para pousarem. Com a pista às escuras, ficava praticamente impossível descer o avião naquele local. Mas adivinhem só a idéia que padre Alonso teve!? Ele pediu ao piloto para sobrevoar a matriz da sede do município. O piloto, sem entender nada, não questionou e atendeu rapidamente ao pedido de padre Alonso, que, nessas alturas, só faltava tomar o comando do avião, tamanho o desespero.


Sobrevoando a cidade – acreditem ou não! –, padre Alonso abriu a janela do teço-teco e disparou a gritar por socorro, pedindo para que alguém iluminasse a pista de pouso. Imediatamente, mais de setenta carros foram para o local e, usando os faróis dos veículos, iluminaram o campo, o que possibilitou, então, que o avião descesse, encerrando o sufoco pelo qual passaram. Ao final, a história terminou de forma muito engraçada. “Graças a Deus, não passou de uma boa aventura”, relatou padre Alonso. [...]


Ele foi um dos maiores políticos que Baixo Guandu já conheceu; se não o maior, com certeza um dos que mais se dedicaram a esse povo. Sempre colocava a necessidade humana em primeiro lugar. Nunca deixou de se preocupar com a classe oprimida e marginalizada, como veremos adiante. De tudo que ele realizou, nada foi em benefício próprio. Mesmo sofrendo as pressões e as perseguições, sendo decepcionado inúmeras vezes, nunca desistiu do seu propósito. Seu espírito batalhador se manteve firme a favor do povo que amava, e foi por causa desse amor que se sentia responsável por todos.


Se os políticos seguissem seu exemplo, teríamos um mundo com menos diferenças e mais solidariedade. Sem dúvida, um mundo mais fraterno. Padre Alonso buscava educar e instruir as pessoas a levar uma vida mais justa e mais humana. No que diz respeito à política eleitoral, ele abriu mão de ingressar nela em função de suas atribuições. Não foi a falta de convite que não se lançou a candidaturas, e sim em virtude do compromisso com a Igreja. Porque era ali, na igreja, que, a exemplo de Cristo, ajudava as pessoas a se autoconduzirem, livrando-as das dores que muitas vezes se instalam na alma.


Defensor de uma política honesta, ele nunca deixou de orientar seu povo para a melhor escolha de seus representantes políticos. Procurava esclarecer os eleitores para uma votação consciente. [...] Padre Alonso foi um dos formadores da cultura social de Baixo Guandu, e a cultura religiosa do guanduense teve sua formação em quase meio século de sua incansável dedicação. Amava tanto esta “pátria Brasil” que, apesar das dificuldades de seu processo, nunca deixou de acreditar na melhoria de nossa nação. Apostava muito no futuro, no crescimento e no desenvolvimento, através da educação das novas gerações, que ainda irão trazer novos ares a este país maravilhoso por natureza.


A pátria é o aconchego do lar coletivo em que todos se tornam um único povo. Porém, infelizmente, ainda existem muitas pátrias dentro da nossa pátria Brasil. A nação deveria ser uma irmandade em que cada um dos chamados “filhos da pátria” pudesse usufruir os frutos que nela se produz. Se imaginarmos todo um povo unido pelo mesmo propósito, poderemos acreditar numa sociedade mais justa, sem tantas diferenças sociais. Quando estamos unidos pela igualdade, somos naturalmente movidos contra as diferenças. [...] A pátria é o berço em que toda nação deveria estar unida com o objetivo de cultivar uma terra, onde todos tivessem os mesmos direitos e as mesmas condições de usufruir o seu fruto. Hoje, o Brasil é formado por muitos brasileiros, mas, infelizmente, ainda são poucos os que se beneficiam daquilo que o país produz.


Uma das maiores obras de padre Alonso recebeu o nome de nossa amada pátria e é uma das escolas mais importantes do município de Baixo Guandu: o Ginásio Brasil. Seu espírito patriota também se expressava nas cores de sua preferência: o verde, o amarelo e o azul nas tonalidades das cores da bandeira brasileira. “Deixai vir a mim as crianças, porque delas é o Reino do céu”. Jesus nos mostra que as crianças, expressão pura da inocência, não precisam de julgamento para herdar o Reino de Deus. Se para elas estão abertas as portas do céu, é porque não se pode encontrar nelas o pecado e nenhuma maldade ou impureza em sua alma.


A criança em sua mais pura inocência tem passagem direta para se encontrar com Jesus. Foi o próprio Cristo quem ordenou que as deixassem passar até ele. Isso mostra que Cristo coloca as crianças num plano muito especial, e mesmo assim, dois mil anos depois dessas palavras pronunciadas por Cristo, infelizmente, há muitas crianças vítimas do descaso social, passando fome e sendo abandonadas todos os dias. [...] As conseqüências sociais são as mais diversas: crianças na ruas pedindo esmolas; nas calçadas, dormindo ao relento; passando frio, sem agasalho e se envolvendo com drogas; crianças sendo vítimas e gerando medo social porque lutam para sobreviver á hospitalidade das ruas e da pobreza que as golpeiam, ferindo-lhes o que tem de mais precioso – a pureza da inocência. [...]


Seguindo o exemplo de Jesus, padre Alonso, levado pelo inquestionável amor às crianças, também as colocou num plano muito especial. O que pôde fazer para que elas fossem acolhidas ele fez. Em 1948, fundou o Lar Santa Terezinha, para acolher meninas carentes; na própria casa paroquial acolhia os meninos que mais tarde tiveram a sua casa definitiva, o patronato. Segundo ele, o amor que emana de uma criança é a forma que ela usa para agradecer tudo que se faz por ela. Esse amor é passado num sorriso, num corre-corre ou num pula-pula de alegria. Basta lhe fazer um agrado e lhe dar um pouco de atenção. Faça algo por uma criança e estará fazendo por Cristo. Faça por Cristo e estará fazendo por Deus; e não se esqueça de que ele nos enviou, primeiramente, como crianças. Todos nós já fomos pequeninos um dia. [...]


A imagem de uma pessoa bem idosa pode suscitar mistério. Por trás do rosto enrugado, escondem-se coisas que talvez somente ela tenha visto. No olhar profundo vindo dos olhos fundos, a firmeza e a certeza de que aqueles olhos fitaram, no passado, a esperança do mesmo futuro que muitos, hoje, ainda jovens, vêem com o mesmo desejo de alcançar. Não é apenas poesia! [...] Padre Alonso sempre lutou para conseguir que esses heróis tivessem pelo menos um lar coletivo, onde pudessem compartilhar de alguma companhia e manter-se num grupo social, embora restrito e longe de seus familiares. Apoiando o Dr. Carlyle Passos, ele participou da construção de um lar para que os idosos fossem acolhidos e cuidados com o carinho e respeito que merecem.


Os idosos precisam de apoio social e, principalmente, do carinho dos mais jovens. Não se deve pensar que eles não têm mais nada a oferecer. Basta conversar com uma pessoa de idade avançada para ver que é possível uma troca muito compensadora, e não é preciso se oferecer mais do que um pouco de atenção. [...] Com o advento da industria e com a lógica do capitalismo na base da produção industrial, surgiu a necessidade de extrair matéria-prima, em níveis nunca antes imaginados – processo que nunca mais parou. O processo teve suas compensações. A tecnologia facilitou a vida das pessoas. Porém, está havendo uma transição da paisagem natural, já quase extinta. O homem tem transformado tudo em nome do progresso, cuja lógica só encontra justificativa no capitalismo.


A industria não deve ser encarada como um avanço negativo, afinal a tecnologia é o seu grande legado ao mundo moderno. Mas todas essas transformações assustam, quando parece que o homem não tem pensado nas conseqüências. Este texto foi escrito a partir da observação e dos cuidados de padre Alonso com a natureza. No pátio de sua casa, a arborização esta presente de forma intensa. Havia diversas espécies de animais e, principalmente, de aves, que ele apreciava e cuidava com muito carinho. O texto se refere também ao lamentável fato de que nem todos fazem sua parte para preservar e cultivar as espécies de vidas que ainda existem na natureza.


Padre Alonso foi professor e, segundo suas ex-alunas Nilva Mattedi e Maria Verônica, era muito respeitado e possuidor de grande sabedoria. Sua didática facilitava o aprendizado e isso transmitia muita segurança aos alunos, que tinham nele um mestre muito querido. Nilva Mattedi se tornou um grande vulto do ensino no município e Maria Verônica se tornou Irmã Verônica, da Congregação das Irmãs Milicianas.


Padre Alonso fundou e dirigiu a Escola Ginásio Brasil, da qual também foi professor. Sua vocação para o ensino escolar já vinha sendo aperfeiçoada desde que lecionou no seminário diocesano que funcionava no Convento da Penha. Em Baixo Guandu, abandonou a sala de aula somente em virtude do aumento de suas responsabilidades na paróquia, quando não era mais possível conciliar o tempo entre as funções da igreja e as da escola.


Padre Alonso realizou muito os sonhos idealizados. Com grande força de vontade e espírito determinado, sempre rompia os limites da impossibilidade e alcançava seus objetivos. Ao mesmo tempo em que era determinado e de iniciativa, era muito impaciente. Na verdade, era tão paciente que a pontualidade não era um de seus pontos fortes. Raramente conseguia chegar em horários marcados, pois se envolvia muito com as atividades que desempenham e as horas acabavam passando sem que percebesse. Era famosa sua impossibilidade. Porém, independente do que fosse: um batizado, um casamento, um aniversário ou qualquer outra realização, ele podia até chegar atrasado, mas sempre chegava bastante animado e muito disposto. Mesmo que tivesse de buscar os noivos em casa, jamais deixava de realizar um casamento. Na verdade, jamais deixava de atender a qualquer de seus compromissos. [...]


Sua persistência era insuperável. Desde uma pequena reforma até grandes fundações, nunca desistiu diante de qualquer obstáculo. De fato, pedia ajuda a todos que podiam contribuir, mas nunca deixou de auxiliar quem necessitava de algo. Uma de suas últimas realizações foi o relógio-despertador instalado na torre da matriz. Essa obra pode ser contemplada por todos os cidadãos guanduenses e visitantes. O grande relógio trouxe novo aspecto ao visual da bela matriz de São Pedro que, em sua arquitetura épica, recebeu uma pincelada moderna. Praticamente todos na cidade ouvem seu despertar em alto e bom som.


Na verdade, seu desejo era instalar o relógio quando a matriz completou meio século de fundação. Porém, não foi possível devido a falta de recursos econômicos. Mas ele nunca desistiu desse propósito e quando o alcançou ficou muito feliz; considerou uma grande conquista. Foi também a sua última pincelada na construção da matriz, como se fosse a estrela que faltava na grande árvore de Natal.


Padre Alonso participava assiduamente das romarias organizadas em caravanas para Aparecida do Norte. Todos os romeiros tinham um carinho muito especial por ele. Também foi bastante conhecido entre vários romeiros de outras localidades do Brasil. O carisma era visível e a luz de sublime humildade brilhava, atraindo as pessoas que naturalmente, procuravam aproximar-se para conhecê-lo. A plenitude sacerdotal o tornara o “padre santo”, como os romeiros costumavam chamá-lo.