Sua autobiografia











              • Sua autobiografia

              Foi encontrado em meio a seus pertences um manuscrito que, em rascunho, registra parte de sua história. Foi o começo de uma autobiografia. O documento foi transcrito para este livro obedecendo na íntegra a seus relatos, para que todos possam conhecê-lo, por intermédio de suas próprias palavras.

              “Numa pequena localidade, situada no município de Lavras, Sul do Ceará, chamada Barro Vermelho, agora Quitaius, nasceu Alonso, em 15 de fevereiro de 1915.

              José Felipe Benício era seu pai – homem magro, moreno, saúde de ferro; lavrador que vivia a fé à moda do Sertão. Antonina Leite de Oliveira era sua mãe – alta, loira, olhos azuis, saúde de ferro. Fé invencível. Seus irmãos eram: Alexandre, Paulina, Levi Maria, Vicente, Carmelina, Vicente (Sendé), Deolina, João, Manuel (Solô) e Alonso, o caçula. Passou sua primeira infância em Quitaius. Aprendeu a nadar cedo, e nadava bem. Gostava imensamente de flores, plantas, aves e animais. Nos domingos disputava corrida no seu belíssimo carneiro branco.

              Admirava os padres capuchinhos e beneditinos que pregavam missões na igreja de Nossa Senhora do Rosário da localidade. Com idade de sete anos começou a frequentar a escolinha local de dona Ester Macedo, onde estudou dois anos letivos incompletos.

              Com a idade de doze anos parte para Fortaleza, em companhia de seu irmão Alexandre, e daí para Rio de Janeiro. Dom Francisco Leite, parente e amigo, o encaminha para o melhor colégio do Rio, o Ginásio São Bento. Era um mundo novo e maravilhoso para um menino do Sertão. Menino de uma escola sertaneja, agora no melhor colégio da Capital. Foi uma luta terrível: vida nova, novos costumes, comida e ambiente social completamente diferentes!

              Por causa de uma doença (naquele tempo não sabia o nome) fui parar em Manhumirim, Minas. Ali fiz o ginásio. Minha família era pobre, teve muitas dificuldades na aquisição dos livros escolares; leitura era uma paixão. Padre Júlio Maria introduziu grande regime no seminário de Manhumirim, e muitos saíram por este motivo.

              Padre Ponciano Stenzel, gaúcho, grande orador, fez apresentação a dom Luiz Scortegagna, bispo do Espírito Santo. Em 1934, tive a grande alegria de vestir a batina preta do clero diocesano. Lecionou no Seminário Nossa Senhora da Penha, no Convento da Penha. Durante as férias ajudava padre Pedro de Oliveira Sergipano, na Serra, e acompanhava dom Luiz Scortegagna nas visitas pastorais.

              Fez seu curso superior em mariana, Minas Gerais. Durante o tempo de levita, trabalhou no seminário menor rachando lenha e levando a roupa suja para a lavanderia. No seminário maior lecionava e cuidava das abelhas e coelhos. Foi ordenado sacerdote por dom Luiz Scortegagna, bispo de espírito e de santa memória, em 21 de dezembro de 1941, na Catedral de Vitória, Espírito Santo, juntamente com padre Geraldo Meyes, colega do seminário maior.

              A primeira missa, na Serra, na Festa de São Benedito, e a primeira missa cantada, em Itaguaçu, ainda em dezembro. Estive em janeiro em Baixo Guandu celebrando uma missa dominical a pedido de padre Aristides Taciano.

              Em janeiro de 1942, foi nomeado coadjutor de monsenhor João Batista Pavesi, pároco de Alegre. Pároco boníssimo e piedoso, trabalhar em sua companhia foi uma festa continuada. Monsenhor Luiz Cláudio de Freitas Rosa, pároco de Colatina, sacerdote exemplar, cultura invulgar, era a alegria e caridade em pessoa. Monsenhor Pavese e monsenhor Luiz Cláudio foram bons mestres e amigos. Suas vidas constituem uma lição viva e permanente para mim.

              Em Colatina tive duas grandes emoções, a Fundação da Congregação Mariana para os jovens e a ajuda ao comendador J. Pagani na campanha peculiar do Colégio Marista.

              Em 31 de março de 1944, em companhia do monsenhor Luiz Cláudio e padre Aristides Taciano, agora pároco de Colatina, assumi a paróquia de São Pedro de Baixo Guandu. Estava identificado com o povo colatinense. Com alma pronta aqui cheguei – era um estranho entre estranhos! Não havia igreja e nem casa paroquial. No caixa: dois cruzeiros! Foi um começo difícil, dificílimo!

              Em 1945, o Brasil estava em guerra, meu nome foi indicado para capelão. Não fui, já tinha muito amor a esta terra! Oficial do Exército Brasileiro, que sonho lindo!

              Nestes 38 anos de terra guanduense, tive grandes alegrias e emoções: Primeira Semana Eucarística, o Congresso Eucarístico de Vitória, o nascimento da Liga Católica, a Congregação Mariana, a Pia União, a Cruzada Eucarística, a Conferência São Vicente de Paulo, o Círculo Operário, o Ginásio Brasil, o orfanato e patronato, a matriz de São Pedro, o salão paroquial.

              Tive também momentos amargos e terríveis quando alguém tentou destruir o que plantei! A Congregação da Milícia de Cristo, que deve ser o sustentáculo da obra neste ano, teve a grande tristeza de ver os seminaristas maiores guanduenses na encruzilhada – um saiu e outro está sem direção.

              Meu grande ideal em 1981 é firmar as obras começadas. Para isto preciso de ajuda concreta, real, paterna da comunidade guanduense.

              Aqui está livremente e por amor. Não almeja cargo, honraria, riqueza. Nas voltas da vida teve três vezes a oportunidade de sair de Baixo Guandu. Em 1945, na ocasião de guerra, como capelão militar. No Governo de JK, amigo pessoal do grande e excelso presidente, este me daria a quadra no centro, onde está o Colégio Salesiano, para uma Fundação Escolar. Dom José de Haas, bispo de Araçuaí, lhe dava a paróquia de Mantena para recomeçar a Congregação Milícia de Cristo. O amor à terra guanduense o reteve aqui.

              Jovens guanduenses, amai apaixonadamente a Cristo e sua Igreja. Trabalhai com amor e perseverança pela grandeza e progresso do Brasil."


              Em 1991, foi comemorado o jubileu de ouro de padre Alonso e lhe foi concedida uma Benção Apostólica do Papa João Paulo II, atribuindo-lhe, de todo o coração, penhor de graças e favores celestiais, por ocasião de seu jubileu de ouro sacerdotal, pois fora ordenado no dia 21 de dezembro do ano de 1941.

              A comunidade guanduense lhe preparou uma inesquecível festa nessa data – uma festa repleta de vários eventos culturais que expressavam o carinho, o respeito, o amor e, principalmente, o muito obrigado por tudo que fez por essa terra e por esse povo que jamais o esquecerá.

              Crianças, jovens, adultos e idosos. Todos ali, unidos com o mesmo propósito de contemplar sua presença, parabenizando-o por sua grande glória pelo merecido título que recebera: monsenhor.