Ramo masculino e aprovações posteriores

Já haviam passado dois anos que nosso Pai-fundador Monsenhor Alonso, que soube viver o carisma do acolhimento aqui na terra, havia sido acolhido na Casa do Pai, quando volta em meu coração, muito forte, os inúmeros apelos feito por ele; um deles foi a missa de Ação de Graças pelos 50 anos de sacerdócio. Na hora de suas palavras de agradecimento, já bastante fragilizado diz: “que Padre José Ayrola organize e dê continuidade ao Ramo Masculino da Milícia de Cristo”. O último apelo foi no hospital, em Colatina, dois dias antes do seu falecimento. Creio ter sido este o seu último pedido, pois na parte da tarde começou a entrar em coma e no dia 26 de setembro de 1991, durante a madrugada, ele foi acolhido na Casa do Pai. Sofri muito, senti um profundo vazio, vazio este só experimentado no falecimento de minha querida mamãe.


Surge o ano de 1994 e aí fica uma voz forte dentro de mim “se o grão de trigo que cai na terra não morre, não produz frutos” (Jo 12,24). Resolvi então, com muita humildade, consciente de todas as limitações e fragilidades, dar o primeiro passo – abrir uma casa para acolher vocacionados. E isso veio a concretizar-se em 19 de março de 1994, festa de São José. Com três candidatos, um que havia conhecido Monsenhor Alonso, o Sebastião José da Costa e Hélio Assunção Loures, vindos de Belo Horizonte; e Gilberto Santana, de Carangola – MG (irmão de uma noviça miliciana), começamos nossa caminhada. Caminhada esta, com momentos de sofrimento, mas também de alegria e esperanças. Começaram a surgir outros candidatos. Em 1995 matriculamos os dois primeiros no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória (Marcelo Margon e Luciano Adversi) e assim iniciamos uma nova trajetória, que não foi nada fácil, e nem poderia ser diferente. Teríamos mesmo que passar por grandes dificuldades, incompreensões de todo tipo, para irmos percebendo que a Milícia de Cristo, semente lançada pelo Pe. Alonso é, realmente, uma obra de Deus. Só assim valeria a pena adubar e regar, tudo sendo feito com muita dedicação e amor.


Tive mesmo que esquecer de mim mesmo e permitir que o Carisma do Acolhimento – deixado pelo Pai-fundador – fosse tomando todo meu coração. Eu confesso que isso também não foi coisa fácil, pois exigiu de mim, uma conversão radical. Tive que começar a ter clareza que “acolher é fazer o outro feliz” que “acolher é não ter medo de ser julgado”, afinal, Ele come com os pecadores (Lc 15,2). Entendi que “Acolher é arriscar-se”. É ter a coragem de correr o risco de não ser compreendido (Mt 5,11). É ter coragem de enfrentar todos aqueles que se consideram justos e querem “atirar a primeira pedra” (Jo 8,7). É ter coragem de ir ao encontro e não ser criticado por acolhê-los em sua casa (cf. Lc 19,5).


Procurei crescer na espiritualidade da unidade: “que todos sejam um” (Jo 17,21), pois foi esta espiritualidade que Monsenhor Alonso legou para a sua Família Religiosa. Aos poucos vai se confirmando, para nós, a vontade de Deus neste projeto tão desafiador. Dom Silvestre, na Festa da Imaculada Conceição de 1998, para a alegria de toda a comunidade, entregou-nos o Decreto de Aprovação:


Aos que virem este Decreto
Saudação, paz e benção.


Tendo ouvido o parecer favorável da Comissão encarregada de acompanhar a experiência e também do Conselho Presbiteral em sua reunião do dia 01 de dezembro de 1998, aprovo, dentro das atribuições que me confere o Direito Canônico, no cânones 298 e 302, a ASSOCIAÇÃO MILÍCIA DE CRISTO, que aspira ser na Igreja uma Sociedade de Vida Apostólica de Sacerdotes e Irmãos, com sede atual na Rua Uruguai, 232 – Cidade Alta – Vitória/ES e confirmo para Coordenador da mesma Associação o Revmo. Cônego José Ayrola Barcellos, invocando sobre ele e sobre esta entidade nascente copiosas bênçãos de Deus.



Dom Silvestre Luiz Scandian
Arquidiocese de Vitória, ES




Aos 13 de dezembro de 2002 foi anunciada a nomeação de Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc como Arcebispo Coadjutor vindo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim – ES, e em 23 de fevereiro de 2003 ele chega a Vitória. Em nosso coração bate forte a expectativa: o que será que pensa Dom Luiz a nosso respeito? Um coisa é certa, ele nos conhecia, já devia ter ouvido muito sobre nós, principalmente notícias “deturpadas”, pois sabemos que “notícia má corre rápido”. Nos colocamos mãos de Deus e o acolhemos com muito carinho e com espírito de fé, pois não foi ele que se nomeou e muito menos pediu para servir nesta Igreja de Vitória. Em nosso primeiro encontro, senti da parte dele um acolhimento muito carinhoso. Não esqueço da frase dita por ele: “vamos caminhar Pe. Ayrola, ver o que Deus quer de nós”. E neste primeiro encontro já ficou acertado de que ele seria o pregador do nosso retiro e que aconteceu em julho na casa de retiro em Ibiraçu-ES, para que assim também ele pudesse ter um contato com toda a comunidade.


Após o retiro, sua primeira orientação foi que encaminhássemos a nossa constituição para ser revista por um canonista e nos indicou Dom João Corso, sdb, bispo emérito de Campos-RJ, residindo em São Paulo. Acolhemos sua orientação e iniciamos os entendimentos com Dom João Corso. Após a revisão canônica, Dom João escreveu seu parecer:



1. Pude, mais de uma vez, estudar detalhadamente a sobredita Constituição, preocupado, antes do mais, com seu conteúdo, como ainda com a redação a mim apresentada, atento também com a sua redação, sobretudo no concernente ao linguajar que, bem que impregnado do carisma do Instituto, não pode deixar de ser jurídico ou dispositivo. Mas devo dizer que a apresentação constante dessa mesma redação, tal qual se apresenta, é merecedora de todo encômio, que aqui fica, sem mais, consignado.


2. Devo em especial consignar os meus parabéns pela sucinta mas excelente explicação da carisma do Instituto, logo no início da Constituição (cap I).


3. Aos Exmos. Srs. Arcebispos de Vitória e a todos os Milicianos, aqui fica minha declaração inteiramente favorável pelo prosseguimento sempre mais bem consolidado da MILÍCIA DE CRISTO, em plena consonância com a CONSTITUIÇÃO a mim apresentada para colher o meu parecer jurídico canônico, na perspectiva de uma eventual aprovação por quem de direito, aprovação esta que não posso deixar de perorar.


Salvo semper meliori iudicio

São Paulo, 27 de setembro de 2004. Festa de São Vicente de Paulo




Mais uma vez os sinais de Deus são oferecidos a nós. Sem saber, Dom João Corso data o seu parecer em 27 de setembro e é a data de sepultamento de nosso Pai-fundador, Monsenhor Alonso. Diante do parecer de Dom João Corso, Dom Luiz nos entregou o Decreto de Aprovação de nossa Constituição e assim se expressou:

Ubi Charitas et Amor, Deus ibi est!
Onde há Caridade e Amor Deus aí está!


É com alegria e gratidão a Deus que manifesto o meu apreço, abençôo e aprovo a Constituição da Sociedade de Vida Apostólica “Milícia de Cristo”.


A Milícia de Cristo é um dom precioso para a nossa Igreja como de fato o são todas as Ordens e Congregações Religiosas. Esta Sociedade de Vida Apostólica com o carisma específico do Acolhimento, apoiada no lema “Onde há Caridade e Amor Deus aí está”, é um dom de Deus para a Igreja. Sua Constituição aborda, com sobriedade e clareza, os traços fundamentais para o seguimento de Jesus Cristo, Caminho de Santificação de cada miliciano com também de toda a Comunidade Miliciana.


O Mistério do acolhimento faz parte do diálogo do encontro interpessoal e comunitário, da mística do Encontro do miliciano com Deus todos os dias. Uma família de consagrados chamada para prestar este serviço à Igreja, testemunhando e anunciando este valor evangélico do acolhimento ao ser humano, tem um significado especial na Igreja e na Sociedade atual. É como um grito profético a ecoar em tantos corações fechados em si mesmos, perante uma humanidade tão ameaçada pelo ódio e recusa do semelhante. O Testemunho e Anúncio miliciano serão sempre um sinal, uma voz de protesto e de convite diante da falta de amor, da marginalização e do desprezo do ser humano pelo ser humano, seja qual for a etapa da vida: embrião, infância, juventude ou na maturidade. Será um apelo de conversão, em todos os ambientes da vida do ser humano. “Ubi charitas et Amor Deus ibi est! Congregavit nos in unum Christi amor!”


Deus abençoe esta Sociedade de Vida Apostólica! Tendo como centro a Celebração da Eucaristia possa crescer na identificação com este Sagrado Mistério, como ofertas vivas de Cristo, vivendo no carisma do Acolhimento como pessoas e Comunidade Eucarísticas.


Que o Imaculado Coração de Maria seja, todos os dias, uma verdadeira Escola de Espiritualidade na vivência do Mistério do Acolhimento. A comunidade Miliciana aprenda a conservar no coração as maravilhas de Deus manifestadas todos os momentos e dias de sua vida apostólica.


Seja a Comunidade Miliciana um lugar de santos, como é da Vontade de nosso Deus e Senhor: “Portanto deveis ser perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48).


Dada e passada na Cúria Metropolitana de Vitória, sob o Nosso Selo e Sinal de Nossas Armas, aos 08 de dezembro de 2004.




Este 08 de dezembro de 2004, Festa da Imaculada Conceição, não foi apenas um dia histórico para os Milicianos de Cristo, e sim, algo muito mais profundo. Estava em nossas mãos, aprovado pelo Arcebispo, a nossa Constituição, não para ser lida e sim vivenciada. A Constituição, para o religioso, é sem dúvida, um dos caminhos que leva à santidade. As palavras do senhor Arcebispo no Decreto de Aprovação devem ser para cada um de nós, matéria para meditação constante.

Dom Luiz Mancilha Vilela tem sido para nós pai e irmão. Pela sua sensibilidade e clareza quanto à Vida Religiosa, por ser religioso e apaixonado pela sua Congregação (Missionários dos Sagrados Corações), tem nos acompanhado com rigor paternal, querendo sempre o melhor para o nosso Instituto. Ele ficará, para sempre, na história da Milícia de Cristo.

Fato marcante em nossa história foi o encaminhamento da documentação para o nihil obstat da Santa Sé para a Aprovação do nosso Instituto como uma Sociedade de Vida Apostólica. Em outubro de 2008 fui à Roma, sendo acolhido pelos padres Teatinos responsáveis pela Basílica de Santo André. Fui bastante inseguro, sem saber como dar os devidos passos, mas por carinho de Deus, lá na casa dos Padres Teatinos, encontrei um verdadeiro anjo: o Pe. Osman Procópio que, com muita disponibilidade e atenção, conduziu-me até as portas necessárias que eu precisava bater. Na Sagrada Congregação dos Religiosos fui recebido pelo Pe. Leonello Leidi, encarregado dos processos de pedido de Aprovação. Na Congregação para o Clero, fui recebido por Dom Cláudio Hummes, que mostrou-se muito acolhedor.

Assumindo o Carisma do Acolhimento, inspirados em Mt 11,28 “Vinde a mim vós todos que estais aflitos sob o fardo e eu vos aliviarei”, nestes 15 anos – 1994 a 2009 – foram acolhidos 128 e quase a totalidade chegaram cansados e machucados e tivemos que usar do óleo da misericórdia, do amor e da caridade para ungi-los e muitos depois poderem continuar a sua caminhada para outras partes, não mais machucados, mas conscientes daquilo que seria melhor para eles.

Destes 128 acolhidos, 21 chegaram ao presbiterato, são eles: Pe. Anísio Tadeu Silva; Pe. José Tozi; Pe. Anderson Teixeira; Pe. Marcelo Margon; Pe. Valdir Vitorino; Pe. David Salomão; Pe. Francisco de Melo Cassaro; Pe. Isael de Jesus Souza; Pe. Wellington Salgado Rodrigues; Pe. Gilberto José Domingos; Pe. Reinaldo José Metrides; Pe. Moacir Marconcini Mozer; Pe. Clesio dos Santos; Pe. Paulo Sérgio Gomes de Melo; Pe. Luciano Adversi; Pe. Erasmo Marques de Brito; Pe. Jorge Antônio de Castro; Pe. Marco Antônio Antunes; Pe. Fábio Carvalho Fernandes; Pe. Paulo César da Siva; Pe. Antonio do Carmo Silva; Três foram acolhidos já ordenados: Pe. Hugo Lima da Rocha; Pe. Edmar José Lopes Mendes; Pe. Tarcísio Rabelo Cabral;

Um foi acolhido já Diácono: Vagner Batista de Melo, que hoje está na Diocese de Teixeira de Freitas.

Fomos rotulados por muitos como aqueles que “acolhem qualquer um”. Em nossa visão o outro nunca é “qualquer um” e sim um irmão, o meu próximo (cf. Lc 10, 29). Nunca acolhi quem bateu em nossa porta com o intuito que o mesmo viesse a ser mais um Miliciano, pois os nossos irmãos que saem de casas de formação, mesmo tendo motivos para tal, saem machucados e desorientados precisando de quem os alivie o fardo e possam, conscientemente, partir para uma profunda conversão ou descobrir que deve perfazer outro caminho como leigo, levando a sério a vida cristã.

Em um Instituto com o Carisma do Acolhimento, com certeza, a vivência desse carisma deve passar pela Paciência de ver o crescer do outro a partir de um sério acompanhamento. Senão não seria nem Carisma e nem Acolhimento (Constituição, 4)

O Miliciano de Cristo deverá ter sempre presente, em relação ao outro a parábola da figueira: cavar, adubar, esperar... (cf. Lc 13,6-8). Isto exige o cultivo da Virtude da Paciência (Constituição, 5).

O que sempre nos maltratou foi a generalização, imposta a todo o Instituto quando acontece alguma mazela. Isto inclusive por sermos um grupo novo e pequeno. Os que assim agem esquecem que as mesmas mazelas e fragilidades acontecem em qualquer Congregação e nas Dioceses com quaisquer de seus membros.

[...] Quero deixar registrado para as futuras gerações de Milicianos uma preocupação com o “possuir” imóveis. Nosso serviço assemelha-se à condição do próprio Deus quando habitava em tendas: Vamos, expressamos nosso serviço a partir de nosso carisma, e depois levantamos a nossa tenda, e partimos para atender a outros apelos.