Instituto br Milícia de Cristo

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Alonso Benício Leite, cearense, nasceu em Quitaius, distrito de Lavras de Mangabeira aos 15 de fevereiro de 1915. Filho de José Felipe Benício e Antonina Leite de Oliveira. Ainda pequeno ajudava a seus pais no trabalho de cultivo da terra sofrendo com as secas nordestinas.

Desde criança demonstrava interesse pelas coisas da Igreja e desejava estudar para ser padre. Foi para o Rio de Janeiro sendo acolhido pelo seu primo que era monge Benedito para iniciar seus estudos Fundamentais, concluídos em Manhumirim (Minas Gerais) com o Padre Júlio Maria, fundador dos Sacramentinos de Nossa Senhora.

Fez seus estudos de Filosofia e Teologia no Seminário de Mariana, sendo ordenado presbítero por Dom Luiz Scortegagna, na Catedral de Vitória aos 21 de dezembro de 1941. Celebrou a primeira missa na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, na Serra/ES.

Seus primeiros anos de ministério foram exercidos nas cidades de Alegre e Colatina (ES). Em 1º de abril de 1944 chega a Baixo Guandu para assumir como Pároco a Paróquia de São Pedro.

Começou seu trabalho pastoral visitando as famílias, sobretudo as mais necessitadas. Teve atenção especial para com as crianças e jovens. Pensou logo em escolas para que pudessem estudar. Percebeu também que seria necessário acolher os mais necessitados e para isto fundou o Lar Santa Teresinha para meninas e na Casa Paroquial acolhia os meninos.

Consciente que sozinho não poderia assumir o Carisma do Acolhimento, concretiza o apelo de Deus em seu coração fundando aos 08 de maio de 1948 uma Família Religiosa de Padres, Irmãos e Irmãs a qual deu o nome de “Milícia de Cristo” a fim de viverem o carisma do acolhimento, inspirado em Mateus 11,28: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei”. Escolheu como lema: “Onde há amor e caridade, Deus aí está”.

Aos 26 de setembro de 1991, Monsenhor Alonso, que tanto soube acolher aqui na terra de modo sempre extraordinário, foi acolhido no céu pelo Pai.

O Evangelho nos diz:
“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer permanecerá só, mas se morrer produzirá muito fruto” (Jo 12,24)

Mons. Alonso está sepultado na Igreja Matriz de São Pedro (Baixo Guandu-ES) esperando a Feliz Ressurreição.

Momentos de nossa história:
Monsenhor Alonso

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Co-fundador:
Pe. José Ayrola Barcellos, MC

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Depoimento de Dom Geraldo Lyrio Rocha, Então arcebispo de Vitória da Conquista - BA

Era assim monsenhor Alonso: verdadeiramente um homem de Deus, sempre voltado para os pobres. Conheci padre Alonso quando eu era ainda criança. Fui a Baixo Guandu passar uns dias de minhas férias escolares na casa de parentes que lá residiam. Logo me encantei pela figura extraordinária daquele padre de batina rota, venerado e respeitado por todos. fiquei admirado ao vê-lo de bicicleta, pelas ruas de Baixo Guandu. Ele tinha uma espécie de “visgo sagrado” que atraía especialmente os jovens. À noite, depois da reza do terço na igreja matriz, eu ia para a casa paroquial, onde, com outras pessoas, ouvia padre Alonso, bebia de seus ensinamentos e desfrutava de sua amizade. Sempre tinha um agrado: um santinho, um pastel, um copo de guaraná... A cada pobre que se aproximava, não faltava um trocadinho tirado do bolso daquela batina surrada. Vem dessa época minha profunda admiração pelo padre Alonso que foi desabrochando numa sincera amizade.

Como seminarista, muitas vezes fui à paróquia de Baixo Guandu, onde aprendi grandes lições com seu zeloso pastor. Como ele gostava dos seminaristas! Sabia incentivar a caminhada vocacional de cada um. Sempre tinha uma palavrinha. Às vezes muito curta, mas cheia de significado. Naquela época, os seminaristas capixabas estudavam no seminário maior de Belo Horizonte. Íamos de trem para a capital mineira. Que beleza quando passávamos em Baixo Guandu, retornando das férias, de volta para o seminário. Lá na estação ferroviária estava o padre Alonso, acompanhado de grande comitiva, para nos fazer a entrega de um farto e substancioso lanche para a longa viagem. As coisas gostosas evaporavam, pois, generosamente, as compartilhávamos também com as demais pessoas que se encontravam no vagão. Era uma festa!

Como padre, no presbitério da Arquidiocese de Vitória, pude sempre contar com a amizade e o apoio de padre Alonso, especialmente em minhas responsabilidades como reitor do Seminário Nossa Senhora da Penha. Padre Alonso demonstrava que me queria muito bem. O sentimento era recíproco. Muitas vezes fui por ele convidado para trabalhos pastorais na paróquia de Baixo Guandu: pregar na festa de São Pedro, realizar semana vocacional, dar cursos de formação para leigos. E como ele sabia valorizar a presença dos padres que visitavam a paróquia de Baixo Guandu!

Como bispo auxiliar de Vitória e depois bispo diocesano de Colatina, dele sempre recebi expressões de profundo respeito, embora me tivesse conhecido quando eu ainda era criança, e mais tarde, tivéssemos sido irmãos e companheiros no mesmo presbitério. Sem dúvida alguma, essa postura foi sempre motivada por sua atitude de fé. Minha primeira visita a baixo Guandu, após minha ordenação episcopal, foi uma verdadeira festa. A recepção na entrada da cidade e o cortejo até a igreja matriz expressaram o sentimento que transbordava do coração de padre Alonso e contagiava a todos. Maior ainda foi a festa quando fiz a primeira visita àquela paróquia após a instalação da diocese de Colatina.

Monsenhor Alonso vibrou com a criação da diocese de Colatina, em 1990. Disse-me que via seu sonho realizado e expressava sincera alegria pela minha nomeação para ser o primeiro bispo da nova diocese. Logo após minha chegada a Colatina, fui visitá-lo em Baixo Guandu, pois sua saúde já se encontrava muito abalada.

Com frequência ele ia a Colatina para a hemodiálise. Enquanto ficava no hospital, seu motorista levava-me os agrados que ele me enviava. Oferecer presentes era uma maneira que tinha de demonstrar sua amizade.

Assim era monsenhor Alonso. Bom Pastor. Sacerdote zeloso. Homem humilde. Amigo sincero. Era inteligente e culto, mas escondia essa riqueza pessoal sob a capa da simplicidade. Voltado para os pobres; amigo das crianças; preocupado com os jovens; dedicado ao povo. Torcia como ninguém pelo progresso de Baixo Guandu.

Suas obras, voltadas especialmente para educação e promoção dos pobres, perpetuam sua memória: para as meninas carentes, criou o Lar Santa Terezinha; para meninos, o Patronato Monsenhor Luiz Cláudio; para a educação da juventude, o Ginásio Brasil; para a classe trabalhadora, o Círculo Operário, para cuidar de suas obras; para levar adiante seu projeto marcado pelo carisma do serviço aos pobres e educação da juventude, monsenhor Alonso fundou o Instituto da Milícia de Cristo.

Um dos últimos sonhos que partilhou comigo foi o imenso desejo de celebrar o jubileu de ouro de sua ordenação sacerdotal. Com grande sabedoria e misterioso pressentimento, antecipou para a festa de São Pedro a comemoração que deveria ser no dia 21 de dezembro de 1991. Apoiei inteiramente sua idéia. E foi bom, pois, no dia 26 de setembro daquele mesmo ano, o Senhor o chamou à sua presença. “Bem aventurados os que morrem no Senhor, descansarão de seus trabalhos porque suas obras o seguem” (Ap 14,13).

No coração e na lembrança, guardo uma linda imagem de monsenhor Alonso que sintetiza bem a sua vida. Era manhã de Quinta-feira Santa de 1991. Na Catedral de Colatina, eu presidia pela primeira vez a Missa de Benção dos Santos Óleos. Os padres da diocese se encontravam presentes. A catedral estava repleta com as delegações de todas as paróquias da diocese. Do altar, vejo monsenhor Alonso surgindo na porta principal. Alquebrado, mais pela doença do que pela idade, revestido de túnica branca, ele vai entrando lentamente pelo centro da Catedral, arrastando os pés sobre a passadeira vermelha. Que figura linda! Espontaneamente, alguém, interrompendo a celebração, entoou: “Sou bom pastor, ovelhas guardarei, não tenho outro ofício nem terei, quantas vidas eu tiver eu lhes darei”. E todos de pé o aplaudiam. Foi a última vez que participou da missa na qual os sacerdotes renovam suas promessas sacerdotais. Era assim monsenhor Alonso Benício Leite: homem de Deus, voltado para os pobres.

Vitória da Conquista, 26 de setembro de 2003.